Antissemitismo, extrema direita e perda de contratos: como Kanye West se tornou um pária da indústria midiática

Nos últimos anos, polêmicas não faltam no currículo de Kanye West. Apesar de sempre ter sido uma figura excêntrica da indústria musical, durante muito tempo, Kanye, que agora se intitula apenas como Ye, foi respeitado como um grande produtor, rapper e empresário, até que seu comportamento errático e controverso começou a ter repercussões negativas em sua carreira.

O que antes era visto apenas como excentricidade, e talvez egocentrismo, como quando interrompeu o discurso de Taylor Swift no VMA de 2009 para dizer que quem deveria ganhar o prêmio era Beyoncè, agora é encarado com a seriedade que merece, como seus discursos antissemitas, divulgação de fake news e teorias da conspiração, negação de fatos consumados e até ataques à comunidade afro-americana, da qual ele faz parte.

Após sua separação de Kim Kardashian, o seu comportamento começou a criar uma simpatia com a extrema direita americana. Mas antes mesmo disso, ele foi apoiador ferrenho da candidatura de Donald Trump em 2016, sendo visto em companhia do ex-presidente várias vezes. A partir disso, ele se tornou o queridinho da parcela “alt righ” dos EUA, e apenas esse ano seu comportamento está sofrendo repercussões, com perda de contratos e negócios empresariais.

Comunidade afro-americana

Um dos pontos que mais despertaram o sentimento de decepção de seus fãs foi a postura que Kanye sempre demonstra ao falar sobre temas raciais, ponto de infinita fricção na cultura americana. Em uma entrevista para o site TMZ, ele disse: “Quando você ouve sobre escravidão por 400 anos. Por 400 anos? Isso soa como uma escolha”.  O rapper acrescentou: “Você esteve lá por 400 anos e é tudo de você, tudo. É como se estivéssemos mentalmente presos”.

Esse ano, no Paris Fashion Week, Kanye apareceu com uma camisa escrita “White Lives Matter” (Vidas Brancas Importam”), indo contra o termo “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam), slogan muito utilizado em protesto contra a violência da polícia americana que afeta toda a comunidade negra.

Ainda em 2022, ao participar de um podcast, Kanye questionou a morte de George Floyd, que foi estrangulado até a morte pelo policial Derek Chauvin em 2020, e que virou símbolo da luta contra o racismo da polícia dos EUA. Na ocasião, Kanye disse: “Se você olhar [as filmagens], o joelho do cara nem estava no pescoço dele assim”. A fala foi dita durante o podcast “Drink Champs”, enquanto falava com Candace Owens, comentarista conservadora e responsável pelo documentário “The Greatest Lie Ever Sold: George Floyd and the Rise of BLM”.

Antissemitismo e simpatia por nazistas

Outro ponto de grande repercussão de Kanye é sua simpatia pelo regime nazista e suas falas antissemitas. No Twitter, o cantor disse recentemente que iria aumentar seu estado de alerta em relação aos judeus para “death con 3” (em uma suposta referência ao “defcon 3”, um dos estágios de segurança mais altos dos EUA). Na sequência, o Instagram e o Twitter suspenderam sua conta.

Além disso, testemunhas vieram a público para falar da suposta adoração que Kanye West tem pelo ditador do regime nazista Adolf Hitler, e que um de seus planos era nomear um de seus álbuns em sua homenagem. Um executivo de negócios que trabalhou para Kanye que disse à CNN que o artista criou um ambiente de trabalho hostil, em parte por sua “obsessão” por Hitler. “Ele elogiava Hitler dizendo o quão incrível era ele ter conseguido acumular tanto poder e falava sobre todas as grandes coisas que ele e o Partido Nazista conseguiram para o povo alemão”, disse.

Carreira em declínio

Por conta dessas e outras falas problemáticas do artista, a indústria midiática reagiu, o que gerou perdas de contratos e credibilidade para seus projetos. A Adidas, marca que produzia os tênis da Yeezy, grife de Kanye, declarou que não irá mais trabalhar com o cantor. “A Adidas não tolera antissemitismo e qualquer outro tipo de discurso de ódio. Os comentários e atitudes recentes de Ye foram inaceitáveis, odiosos e perigosos, e violam os valores da empresa de diversidade e inclusão, respeito mútuo e justiça”, escreveu a companhia.

Kanye recorreu à Skechers, outra marca famosa de calçados. Ele apareceu na sede da empresa sem ser convidado solicitando uma reunião com o CEO. Seu pedido foi negado e sua saída imediata do ambiente foi solicitada.

O artista também perdeu seu posto na lista de bilionários da revista Forbes. Sua fortuna estimada caiu de US$ 2 bilhões para US$ 400 milhões com o fim do contrato com a Adidas. A empresa controladora a produtora de Kanye, a Def Jam Recordings, também condenou o comentário antissemita do artista.

Kanye perdeu amigos, como Justin Bieber e Hailey Bieber: “Você não pode acreditar em Deus e ser antissemita. Você não pode amar a Deus e apoiar ou tolerar o discurso de ódio”, disse Hailey. John Legend disse “É estranho como todos esses ‘pensadores livres e independentes’ sempre acabam no mesmo velho [discurso] antinegro e antissemita”. Até sua ex-esposa, Kim Kardashian veio a público para condenar as falas do ex. “Discurso de ódio nunca é aceitável ou desculpável. Estou junto com a comunidade judaica e peço que a violência terrível e a retórica odiosa contra eles cheguem ao fim imediatamente”, disse no Twitter.

Reprodução: istoé

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